segunda-feira, 20 de maio de 2019

Geografia: seus assuntos e seus caminhos metodológicos

Os temas não definem se uma abordagem é ou não geográfica. Podemos falar de relevos, rochas, climas, mapas, populações, cidades, campos e tantos outros temas mais, tendo como referência os saberes fundados na geologia, na climatologia, na cartografia, na demografia, na sociologia, na economia, física, química, e a lista não terá um final que satisfaça os que se preocupam com o assunto. O que define uma ciência é a maneira como o sujeito constrói sua dúvida e, fazendo uso de uma tradição, busca responder o que ainda não foi respondido e, na melhor da hipóteses, perguntar o que ainda não havia sido perguntado. Para sabermos se uma abordagem é ou não geográfica há, sem dúvida, um ponto de partida cuja fundamento acharemos em suas próprias raizes: A pergunta do sujeito deve estar, antes de mais nada, associada à relação possível entre a distribuição e localização dos elementos que compõem um processo e a maneira pela qual tal condição define o próprio processo. Tal resposta, no entanto é insuficiente, pois, de uma maneira ou de outra, o reconhecimento da ordem possível de qualquer fenômeno é uma busca primária em qualquer campo do conhecimento. É preciso avançar e identificar que na nossa tradição, independentemente da infinidade dos temas possíveis, todos se associam à escala do ecúmeno humano. Para a tradição geográfica a disposição das estrelas só fazem sentido se nos ajudam a localizar uma direção ou ponto específico em nosso planeta e associado diretamente ao nosso viver. Da mesma maneira, a estrutura química de uma rocha e, portanto, o ordenamento molecular que a define, só interessa à geografia quando tal informação nos ajuda a entender o sentido de “lugar” que ela cria e, portanto, em que medida estar onde está define o existir das sociedades que, direta ou indiretamente, a ela estão associadas. É por isso mesmo que a cartografia é a linguagem mais utilizada pela geografia, pois, no final das contas, é a que permite representar “topológicamente a topologicidade do fenomênico na escala do ecúmeno humano” (juro que não copiei essa proposição de um manual de bruxaria). Assim, para além dos temas, o que define uma ciência é a dúvida sistematizada por um sujeito e é, justamente, na maneira pela qual ele a constrói que se define qual é o seu objeto. Não é o objeto que define uma ciência, mas a maneira pela qual o sujeito o constrói e, portanto, não basta ser geógrafo (e nem ao menos é uma condição prévia) para se fazer geografia, é preciso saber construir suas perguntas e, por consequência, achar os caminhos que permitam construir respostas.